RECORDAR É VIVER!!!
A NOSSA ESTREIA NOS 3 DIGITOS!!!!
Após a decisão de tentar ir ao UTMB-CCC (101km’s) a primeira escolha para experimentar pela primeira vez provas de 3 dígitos e principalmente de experimentarmos a parte da noite, recaiu de imediato em Sicó depois de termos feitos os 52km’s em 2017.
A escolha baseou-se principalmente na menor altimetria e de supostamente ser mais rolante relativamente a outras provas.
Como estávamos enganados!!!!
Os 111km’s de Sicó são traiçoeiros e porventura devido à pouca altimetria, torna-se muito complicada de gerir!
Facilmente podemos dividir a prova em duas...
Uma primeira parte rolante em que é fácil atingir ritmos a que não se está habituado e uma segunda parte em que é tudo menos rolante e sim um constante sobe e desce que se inicia exatamente com a subida ao Monte Sicó e termina só na meta!
Lá para o final tem-se 1km vertical (literalmente!) e o Trilho da Cascata que feito de noite parece o “fim do Mundo em cuecas” em que por diversas vezes só apeteceu desistir e “mandar vir um helicóptero” para nos tirar de lá! 😱
Localizado num vale profundo, numa escuridão total em que nem a lua se conseguia ver e onde tudo parecia ter uma dimensão que de dia não deve ter!
Mas voltemos ao início da “coisa” …
Com a inscrição nesta prova tivemos de tratar da logística e preparar todo o material obrigatório assim como do que, na teoria, iriamos necessitar nas duas bases de vida.
Logo à partida a Fófuxa necessitou de uma mochila maior do que a de 5l que costuma usar.
Optamos, a conselho do nosso amigo Jacinto da loja Runners, pelo novo modelo “Advanced Skin 12l”da Salomon.
Este modelo verificamos em prova ser um excelente upgrade do modelo anterior (que eu tenho) tanto devido ao conforto durante a prova como na capacidade de transportar o material.
Acima disso de destacar a possibilidade de transporte dos bastões na parte traseira com bastante facilidade de “guardar e retirar”.
Para não ficar atrás nas “coisas novas” eu utilizei pela primeira vez as Hoka Evo Mafate 2 (oferecidas no Natal pela minha fófuxa 😘).
Na minha opinião são um upgrade excelente às Hoka Mafate Speed 2 a nível de apoio e conforto no pé durante toda a prova!
Tendo sido a primeira prova de 3 dígitos tivemos de “adivinhar” o que poderíamos necessitar para “trocar” nas bases de vida.
Na dúvida decidimos levar duas mudas de roupa completas, “géis”, “headwear”, meias e fitas para colocar nos dedos.
Ahhhh.. e “droga”! sim!! Nós “drogamo-nos”! 😂😂😂😂😂
Finalmente a nível de material “novo” tivemos luz “pisca-pisca” vermelha para usar durante a noite na mochila e “cravamos” o frontal e os bastões BlackDiamond ao Virgílio Mascarenhas!
Sim… para além de “drogados” nós também somos uns “cravas” de primeira água!
Depois da logística toda tratada a ansiedade foi aumentando com o passar dos dias e a aproximação da data da prova!
“Ai que nervosa!
Vai ser lindo!
Nem vou dormir!”
“Vai ser lindo vai…vai ser como o costume… um pé atrás do outro e de abastecimento a abastecimento! 😂
De resto mais hora menos hora e chegamos à meta!”
Não escondo que depois das nossas últimas provas e com a preparação que tínhamos feito coloquei como “objetivo dissimulado” fazermos os 111km’s abaixo das 21hrs.
Sendo que o objetivo realista era não ser barrado nas barreiras horárias e cruzar a meta.
Devido à partida ser às 0h00 de dia 23 saímos em direção a Condeixa-a-Nova por volta das 12h com a ideia de almoçar “em condições”, levantar e ir para o Hotel descansar até perto da hora de partida.
Após uma viagem tranquila e chegados a Condeixa lá fomos em busca de local para almoçar…
Numa pesquisa no nosso grande amigo “Goola” ficamos a saber que o prato típico daquela zona era o cabrito assado e por isso a escolha do “prato” já estava feito à partida…
Após um breve “passeio” em volta do centro de Condeixa a escolha do restaurante recaiu no “O Regional do Cabrito” simplesmente porque tinha boa “pinta”.
Entramos e só tinha uma mesa.
Ficamos logo bem impressionados pelo interior…
Um restaurante moderno, mas com “pinta” de antigo.
Para além disso um Restaurante estar cheio à hora que chegamos é sempre bom sinal…
Estando o prato já escolhido de antemão a escolha do “acompanhamento” recaiu num espumante Terras do Demo que nós somos “ateletas” e precisávamos de “algo” para conseguirmos descansar umas horinhas…
Ficamos a saber que o espumante deve ser bebido em taças largas e não em flutes pois após a abertura é “solto um gás” que altera a qualidade e torna-os mais “áspero” no palato.
Sempre a aprender…
O cabrito estava simplesmente de “chorar por mais”!
Nunca comemos um cabrito confecionado daquela forma!!
Não fosse a “corrida” e era também o nosso jantar!
Recomendamos!!!!
Para sobremesa a escolha recaiu, após conselho do funcionário, numa “Escarpiada”.
Ficamos a saber que é o doce típico daquela zona e é simplesmente espetacular!
Saímos a “rebolar” do Restaurante e fomos levantar os dorsais.
O levantamento era feito numa enorme tenda junto ao Tribunal de Condeixa.
Como nos acontece quase sempre estava à nossa frente um grupo de “complicadinhos”…
Algo que deveria ser rápido tornou-se m algo que demorou cerca de 20m devido a esse “grupinho”…
Por alguma razão as Organizações criam Regulamentos, informações e instruções aos atletas do que precisam levar e de como “fazer” as coisas!
Mas não!!!
Esse grupinho nada sabia, com a mania que eram engraçadinhos e com todo o tempo do Mundo!
Escusado será dizer que quando chegamos não estava ninguém atrás de nós e que passado uns minutos com tanta demora a fila já chegava fora da tenda!
Enfim…
Dali fomos direitinhos para o Hotel…
Uma Guest House (Jantesta Guest House) muito simpática, ainda a ser renovada, mas com o conforto suficiente para descansar antes e depois da prova.
Preparamos a tralha toda e fomos “nanar” e colocamos o despertador para as 19h…
Graças ao “suplemento” ao almoço rapidamente adormecemos.
Despertamos cerca das 18h30 e tivemos a honra dereceber um telefonema da “lenda do trail nacional”!
“Uii não é engano!”
“Não não é! Então como estão?”
A verdade é que a “lenda do trail” que na “nete” é muito polémico e manda umas “postas” é na realidade uma pessoas que se preocupa connosco e tem sempre uma palavra simpática e um conselho para nos dar!
Começamos a preparar para sair por volta das 19h30, comemos algo e saímos às 22h em direção a Condeixa para deixar os sacos para as bases de vida.
Depois de os deixar e levantar o “marcador” GPS fomos para um café junto à Praça onde era a partida e ali ficamos até por volta das 23h30 altura em que nos dirigimos para junto da partida.
A Praça estava repleta tanto com atletas e familiares assim como com muitos locais que lá estavam para apoiar!
Encontramos o César Canito, nosso companheiro de casa de Chamonix e ficamos a conhecer outros dois atletas com quem vamos partilhar a casa este ano durante o UTMB!
A sensação e uma partida à meia noite é totalmente diferente!
Não sei se devido a isso, mas sentia-se no ar uma energia daquela “gente” toda completamente diferente e o teu corpo num estado de adrenalina misturada com ansiedade que te faz sentir como o melhor atleta do Mundo!
Ali bateu…
“FDX nós vamos fazer 110km’s!!!
Não devemos mesmo bater nada bem!”
Sim…. Muitos que estão a ler isto podem dizer:
“Só isso!? Nada de especial!!! Vocês têm é a mania!”
Mas para quem só há 4 anos atrás começou a correr é um marco que vai ficar para sempre e para nós foi especial!
Após o controle zero lá entramos para a box de partida e às 0h00 foi dada a partida…
E que partida!!!!
Com exceção do UTMB-OCC em 2017 nunca tivemos uma partida assim!!! OMG!!!
Centenas (milhares?) de pessoas a apoiar na Praça e ao longo da Avenida por onde partimos com uma energia positiva tal que tivemos a certeza que íamos conseguir terminar!
O tempo estava ótimo para fazer trail!
De Condeixa até ao abastecimento de Beiçudo foi sempre a rolar através de trilhos excelentemente marcados e a “sofrer” com o calor…
“Mas porque raio trouxe eu o impermeável?
A térmica chegava e sobrava!”
As primeiras impressões de correr à noite foram que “isto de dia deve ser espetacular”!
Escuro como bréu e só se viam a luz dos frontais e dos “pisca-pisca” vermelhos que levávamos atrás na mochila!
Ao chegar ao abastecimento tivemos uma excelente surpresa…
A Rosa Costa e o Mário Costa iam estar toda a noite a acompanhar e a apoiar!
“Força meninos! Vamos estar a apoiar-vos toda a noite!”
Nós ao fazermos as provas sempre juntos apoiamo-nos mutuamente mas ouvir e ter alguém de “fora” é sempre animador e dá uma força extra!
Escusado será dizer que no abastecimento a primeira coisa que fizemos foi tirar os impermeáveis para nunca mais tirar da mochila!
A prova a partir dali continuou bastante rolante, com pequenas subidas aqui e ali que usamos para “descansar” de tanta corrida! :P
Ao atingirmos aproximadamente o km 47 começou o dia “a nascer”.
Aquilo que nos levou a Sicó foi principalmente experimentar a sensação de correr à noite.
Tivemos muita sorte com o tempo e ficamos com excelentes sensações mas realmente não é para nós!
Perdemos metade daquilo que nos leva a fazer trail!
Não se vê “um corno”, não dá para apreciar verdadeiramente os locais fantásticos por onde passamos, vamos horas a fio a olhar para um foco de luz no chão e tudo “mete confusão” e extrapolamos tudo 100%!
“Porra parecia um bicho!”
Cerca do km 46 o dia começou a nascer o dia e nessa altura apercebemo-nos de quão fantásticos locais estávamos a passar!
Com tanto km sempre a rolar a fadiga começou a instalar-se e o meu quadriciped esquerdo começou a dar sinal que estavas farto de correr!
A minha fófuxa ia fresca como uma alface ou pelo menos assim parecia!
A primeira base de vida foi em Alvorge.
A preparação do material para trocar ali baseou-se na troca de roupa apropriada para a noite para outra para dia.
Trocamos as camisolas, trocamos os buffs pelos chapéu, verificamos o estado dos “pneus” e abastecemo-nos para continuar!
“Ah bela sopa!”
Saímos dali com a moral em alta e +- descansados e fizemo-nos ao caminho…
A “rolagem” só parou quando atingimos o Monte Sicó (+-km60).
Ao chegar lá começamos a verificar ao longe uma linha contínua de pessoas a subir!
“WTF? De onde saiu aquela gente toda?
Queres ver que são dos 50km?
Estamos lixados!
Se paro agora fico ali!”
Como não íamos voltar para trás lá seguimos a passo a ver se a “coisa” avançava e dava para conseguirmos passar sem muitas paragens!
Ao quase chegar ouvimos ao longe..
“Olha os fófuxos!!!
Foorrrçççaaaaa!”
Não conseguimos verificar na altura quem era mas era alguém que nos conhecia ao longe!
Ao chegar vimos que era a Sofia Portela!
Foi nesse ponto o nosso anjo da guarda e a nossa sorte!!!
“Deixem passar! Encosta!!!!
Deixa passar os 100!!!
Foorrçççaaaa, forrrçççaaaa!!”
Até tivemos direito a palmas!
Parecíamos atletas de primeira linha com tanto apoio!
“Quantos kms já levam?
Cerca de 60 e poucos!
Fdx, vocês só podem ser malucos! Força!”
Aquela “abertura” de passagem permitiu que fizéssemos o Monte Sicó sem parar e a um ritmo constante!
Chegados ao topo e entusiasmados com o apoio e cheios de adrenalina, “disparamos” a correr o que mais à frente se viria a verificar ter sido um enorme erro!
Fomos durante uns km’s na converseta com um casal que ia a fazer os 50kms, sempre acompanhados por um grupo de 3 atletas dos 110km com quem a partir dali nos fomos sempre cruzando!
Alguns km’s à frente fomos “obrigados” a parar.
“Estava a ver que não paravam!
Irra! Sempre a correr, sempre a correr!”
Realmente tínhamos sido avisados que a prova só começava verdadeiramente ali, no Monte Sicó, e que nos devíamos poupar até lá!
Não que fosse com muita altimetria mas que com o passar dos quilómetros e o cansaço a acumular-se ia ser muito diferente da primeira parte.
Dali em frente foi sempre um constante sobe e desce, intercalado com terreno plano que fomos “atacando” da melhor forma que íamos conseguindo!
Se o quadriciped esquerdo “ficou” ao km40 o direito “ficou” +- ao km65!
Ainda estou para perceber o que se passou pois simplesmente “bloquearam e não queriam trabalhar”!
Isto fez com que a partir dali correr fosse sempre com um sacrifício descomunal o que implicou que “caminhar” fosse sempre a 1ª opção!
Ao km 75 atingimos o abastecimento de Pousadas Vedras e aproveitamos para descansar um pouco.
Quando chegamos já lá estavam os Finos encostados à mesa com um grande prato de massa com carne e de cerveja na mão.
Lógico que mal vi aquele panomarama decidi de imediato imita-los e sentei-me a “desbastar”
“Oh menina quer?”
“Não obrigado!”
Pensando ela que era sopa não aceitou a mas depois de olhar em volta e ver que era massa…
“Pensando melhor quero!
Não se importa?”
O simpático senhor não foi de meias medidas…
“Não seja por isso!” e encheu um prato com massa e carne por cima.
Ela sentou-se à minha beira e de repente…
“Olha olha olha olha!?
A chique!
Como é que tens o discernimento a esta hora de enrolar a massinha com o garfo?!
Queres uma colher para pôr por baixo?
Nós aqui a comer que nem uns chabardos e ela a enrolar a massinha!”
Mais um momento memorável do Tó!
Depois de acabar a massa e descansar mais uns miutos fizemo-nos ao caminho…
“O caminho faz-se caminhando!”
E nunca como nessa altura fez sentido esta expressão!
Se eu estava “desgraçado” a minha fófuxa continuava “fresca e viçosa” e muitas vezes “disparou” à minha frente para me “forçar” a acelerar e esquecer as dores! :*
Nem com o spray frio, que levo sempre, a “coisa” amainou mas a opção de desistir nunca se colocou!
“Nem que vá de joelhos terminamos esta .erda!!!”
Por esta altura passamos por locais fabulosos como o Vale do Canhão dos Poios e finalmente atingimos a 2ª base de vida em Tapeus ao km85.
Durante quase todo o percurso até ali fomos-nos sempre cruzando com o grupo dos 3 atletas que apanhamos no Monte Sicó e com a Equipa dos “Finos”!
Sempre que nos cruzávamos com o Tó e o Filipe Leite quer fosse durante a prova ou nos abastecimentos, eram momentos de converseta, de apoio mútuo e, como não podia deixar de ser, de “finos”!
No meio dessa “converseta” ficamos a saber alguns “podres” existentes no seio da equipa…
Desde o egocentrismo exacerbado de um dos “chefes” assim como da qualidade inferior que a camisola da equipa tem…
Foram uns parceiros top durante toda a prova e essenciais para manter o espirito em alta!
Em Tapeus fizemos alguns ajustes no material.
Trocamos de frontal, trocamos os chapéus por buffs e trocamos os impermaveis que levávamos na mochila desde o 1º abastecimento por corta-ventos caso fossem precisos para os últimos 15km’s.
Se no abastecimento anterior tínhamos “enfardado” um excelente prato de esparguete com carne aqui pelo que disseram devia haver leitão.
Pois “devia” mas não havia!
Pelos vistos os atletas dos 50km tinham chegado cheios de fome e deram cabo de tudo!
Os “gordos” lambões”!
A sorte foi que no meio do frango de churrasco que havia na mesa lá encontrei um pedaço de leitão que “soube pela vida”!
Os abastecimentos servem não só para repor o que “perdemos” durante as provas mas também para “levantar” o espírito.
Mas dos abastecimentos falo mais à frente…
Dali em frente até ao abastecimento de Casmilo foram 7km’s tranquilos.
A noite “caiu” e o frontal foi novamente necessário..
Durante alguns km’s fomos acompanhados pelo Sérgio Moreira e um casal de atletas com quem fomos trocando opiniões e experiências em provas e dicas sobre trail.
Chegados a Casmilo, no km 100, quase não demoramos…
Enchemos basicamente os flasks, comemos algo e saímos para enfrentar aquilo, que julgávamos nós iam ser 11km’s +- acessíveis com exceção do Trilho das Cascata.
Estavamos redondamente enganados!!
Cerca do km 105 “apareceu” vindo do nada 1km vertical (LITERALMENTE 1km e VERTICAL!)
Se os meus quadricipeds até ali se recusavam a “trabalhar”... bem… a partir dali foi quase preciso espanca-los!
“Fdx onde foram desencantar isto?!
Havia necessidade disto a esta hora do campeonato??!!
Qual é a lógica?! PQP!”
Sim, eu também mando vir e digo asneiras!
Com alguma dificuldade lá conseguimos ultrapassar aquele enorme obstáculo!
Não é necessário dizer quer tudo o que sobe desce e desta vez não foi diferente!
Naquela altura era menos difícil subir que descer mas como para trás não íamos e desistir estava fora de hipótese “trincamos a língua” e avançamos como conseguíamos.
Posso dizer que até não correu mal…
Com uma passada acelerada fomos ultrapassando km’s até ao momento do inicio do Trilho da Cascata…
Bem… o que dizer “daquele” Trilho…
Escuridão total com exceção da “luzinha” do frontal, ramos e raminhos, raízes e raizinhas, pedras e calhaus, subidas e descidas...
Um trilho bastante técnico que devido à “noite” se tornou ainda mais “técnico”.
De dia deve ser deslumbrante mas aquela hora e com as condições físicas em que íamos só nos apetecia sair dali para fora rapidamente!
A dado momento apanhamos dois atletas com quem fomos até à meta.
“Fdx….pqp!
Mas porque vim eu para aqui?!
A minha mãe bem me disse…
Davas-me o dinheiro a mim que eu dou-te uma coça e ficas como se tivesses terminado a prova!
Quantos km’s faltam?”
“Cerca de 3,4!”
Fdx! Ainda?!
É impossível!!!
Não vejo luzes!”
Escusado será dizer que foi um “fartote” de rir até ao final com ele!
Estava mesmo desesperado de terminar a prova!
O outro a determinado ponto…
“Vou ligar a um amigo meu!
Tou! Ouve lá faz-me um favor… vai aí ao site ao meu track e vê onde estou!”
Falta 4km’s disseram-me agora”
“Fdx!!! 4km’s?!
Pqp isto tudo!!!
Nunca mais me apanham noutra!
Realmente, devido à dificuldade de progressão os km’s pareciam não passar, mas com esta “alegria” foi menos difícil! :P
Depois de sairmos do Trilho até final o percurso foi quase sempre rolante e feito a 4…
“Já me perdi 3 vezes hoje não me quero perder outra vez!”
“Vou tentar correr! Até já!”
Bem, mal se afastou uns metro virou à direita em vez de para a esquerda!
“Ó pá, não é para aí!”
“Ohhh fdx!!!!!! Outra vez!!!!!!
Farto disto!!!!!”
Mais uma risada e continuamos a “caminhada” até à meta!
Passamos por Condeixa-a-Velha e começamos a aproximar-nos da bela Conímbriga.
Realmente de noite a “coisa” não tem mesmo piada!
Tudo é igual, tudo é escuro e tudo “mete medo”!
A caminhar afincadamente lá entramos em Condeixa e mesmo ao chegar junto da Câmara deparamo-nos com uma “pessoa” aos saltos e empolgada…
“Foorrrrççaaaa Fófuxos!!!!”
“Uiii quem é?!”
Com a luz fraca dos candeeiros de rua não conseguimos identificar logo mas ao aproximarmo-nos vimos que era a Cristina!
Ela e o Rui estavam à espera junto à Câmara e receberam-nos de uma forma tal como se fossemos os primeiros…
“Parabéns!!!
Vocês são demais!”
Entre outras mais que não consegui decifrar tal era o estado lastimável em que vinha…
Subimos a escadaria da Câmara e a Fófuxa, fresca que nem uma alface, diz:
“Anda amor! Vamos!”
“Vamos onde?
Nem caminhar direito consigo!”
“Tenta correr!
A Cristina e o Rui merecem!
Estão tão satisfeitos!”
Engoli ainda mais a dor e lá tentei correr…
Bem, chamar aquilo correr…
Só visto!
Parecia um pato mas lá me arrastei porque realmente mereciam o último esforço pois nunca tínhamos sido recebidos de forma tão empolgada como por aquela dupla espetacular!
Fomos sempre acompanhados pelos incentivos da Cristina e do Rui durante a reta final!
Ao fim de 21h57m lá cruzamos a meta como habitual!!
Lado a lado e de mão dada! :*
Cruzei a meta esgotado como nunca e com dores que nunca tinha sentido e por isso mal passamos a meta, atirei os bastões para o chão e tive simplesmente de me agarrar às coxas e estar assim uns minutos.
OBRIGADO DO FUNDO DO CORAÇÃO AOS DOIS PELA RECEÇÃO E PELOS METROS FINAIS!
Visto agora, quando já passaram duas semanas, aquela chegada foi ao mesmo tempo épica e estúpida!
Épica pela receção que tivemos, pela superação ao longo de 111km’s, por todos os momentos que passamos juntos durante as 21h57m, pelas conversetas que fomos tendo pelo caminho, pelos locais que fomos passando e pelas paisagens que nos foram oferecidas e estúpida porque acabar a correr como um “pato”, com cara de poucos amigos e com vontade de chorar e de me atirar para o chão!
“Parabéns!!!!
Qual é o vosso tamanho?
Vou buscar os vossos casacos!”
Bem mal ouvi bateu-me…
“Fdx conseguimos acabar!”
Nessa altura as dores parece que passaram e não consegui parar de sorrir como um maluco.
Das duas uma… ou foi devido a isso ou foi pelo enorme sorriso e alegria da minha fófuxa e da Cristina!
“Oh Rui põe-te aí!
Tira uma foto com eles!” 😂😂😂
Momentos brutais!!!!!
Estivemos ali uns minutos a conversar, fomos buscar a nossa “saca de recuerdos”…
Uma garrafa de vinho tinto, queijo Rabaçal, frasco de mel e um azulejo relativo à prova.
Espetacular!
A ida para o carro foi outra “maratona”!
O corpo pareceu que entrou em shut down… só mesmo filmado!
O que vale é que nos deu para rir…
Imaginem só…
2 tolinhos, rua fora, de mão dada, com uma saca de plástico cada um, a cambalear devagarinho e a rir como uns malucos!
“Isto vai ser lindo!”
O carro estava a cerca de 100m da meta mas pareceu que estava a km’s!
Entramos no carro e passados 10m estávamos em “casa”!
Aí foi outro filme!
Subir as escadas até ao quarto, com a tralha toda foi épico e só tenho pena de não ter uma GoPro para ter registado tudo!
Demoramos, sem exagero, 10m a chegar ao quarto.
Tomamos banho e foi “diretos” para a cama!
Estavamos completamente KO mas quando nos levantamos a “coisa” até não estava muito mal à excecção das bolhas nos pés!
Tomamos o pequeno-almoço mais reforçado e saímos de volta para Condeixa para ir buscar os sacos das bases de vida e para ver se víamos a chegada do Rui e da Cristina que tinham ido aos 25kms!
Assentamos arraiais numa esplanada, com os nossos casacos de finisher vestidos 😂😂 a beber uns finos e a comer tremoços..
A dada altura..
“Vem aí o Rui!”
Lá vinha ele a correr que nem um desalmado e sem ver ninguém!
“Parabéns!
Correu bem?”
“Correu!! Fiz tudo sempre a correr!
Mas estava um calor!”
Disse-lhe onde estávamos para ele ir lá ter e voltei aos finos…
A Cristina chegou com a vassoura mas vinha com a mesma alegria e euforia com que nos tinha recebido!
“Anda Cristina!
Parabéns!!”
“Ohhhh vocês esperaram por mim!
Obrigado! Obrigado!
Vocês são demais!”
Nós não somos demais nem “demenos”!
Quem merece, merece e não é toda a gente que merece!
Depois de uns minutos de conversa fomos embora e assim terminou o nosso fim-de-semana épico dos 111km’s
O Trail Conímbriga Terras de Sicó 2019 irá ficar sempre marcado como o primeiro onde experimentamos e concluímos com sucesso a mítica distância dos 3 digitos!
Um trail com organização de excelência onde a ideia de ser uma prova rolante ficou totalmente de lado mas que devíamos ter feito uma gestão diferente mas conseguirmos terminar também de forma diferente!
Não sendo de longe uma prova difícil, tem os seus “q’s”, particularmente a partir do Monte Sicó até ao final do Trilho da Cascata que exige uma preparação e gestão algo diferente da que estávamos habituados.
Um enorme fator para o sucesso da prova são, sem dúvida, os abastecimentos.
Organizado com tudo o que é necessário desde café a cerveja, desde fruta, massa passando pela sopa, frango e leitão, desde bolachas e biscoitos até frutos secos e acima de tudo queijo.
Nada nos faltou e a forma como eramos recebidos pela organização foi também preponderante para o estado anímico não quebrar!
Sem dúvida que depois do Sicó nada será igual e sem dúvida que vamos preparar e olhar para o UTMB-CCC de uma forma mais correta!!!!
